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Do investimento da Microsoft em Sines

12 de novembro de 2025 — ~marado

Talvez alguém me consiga explicar melhor esta "novidade anunciada" do "investimento da Microsoft em Portugal". Porque para mim nem parece uma coisa nova, nem um investimento em Portugal - mas revela outras coisas... É que isto é na realidade um acordo entre a Microsoft (US) e NScale (UK) para alojar servidores Dell (US) com gráficas NVidia (US) em datacenters nos Estados Unidos e na Europa - já anunciado no mês passado. Um desses datacenters Europeus será o de Sines, em Portugal, onde esses "servidores para AI" irão estar a sugar energia (e sim, aposto que isso irá gerar receita para a Start Campus, ainda que não vão ser os tais dez mil milhões - e apesar da Start Campus ser detida por fundos US+UK, sempre mantém postos de trabalho em Portugal...).

Mas se isto já me pareceria "pouco para celebrar" (lá está, talvez me esteja a escapar qualquer coisa), o que me aflige é a parte de que ninguém está a falar - uma AI farm em Portugal para quê? E a resposta também já nos foi dada no anúncio do mês passado, e devia-nos preocupar: o objectivo da Microsoft é ter como "providenciar a clientes Europeias soluções de IA soberana, dentro da Europa" - ou seja, todo este investimento da Microsoft é para a Microsoft tentar vender na europa as suas soluções de "Microsoft Sovereign Cloud" que, como sabemos, de soberanas não têm nada.

É possível que eu não esteja a ver bem a coisa - e haja aqui uma dimensão, talvez até óbvia, que me esteja a passar ao lado. Mas mesmo que assim seja, este papaguear de uma "boa notícia" sem explicar a notícia ou porque é boa pouco abona do jornalismo que tem coberto este re-anúncio.

tags: Microsoft, Sines, StartCampus, AI, IA, Nvidia, Nscale, cloud, soberania, pt

O manifesto das cebolas na era da transição digital

11 de maio de 2021 — ~marado

Ocorre-me com regularidade que eu escrevo demasidos comentários em redes sociais efémeras por natureza, ideais que rapidamente se perdem em eternos scrolls. Este é um texto que escrevi numa thread no twitter e que agora republico aqui, para mais fácil guardar para a posteridade.

Em 2012, a ANSOL - Associação Nacional para o Software Livre, lançou o seu manifesto do campo das cebolas. Aí criticava o esbanjar de dinheiros públicos na aquisição - frequentemente ilegal - de software.

A ESOP - Associação de Empresas de Software Open Source Portuguesas, fez de um desses contratos exemplo: levou a Câmara Municipal de Almada a tribunal e ganhou. Mas de que serve uma vitória, num caso, se a prática se mantém?

Em 2013, observaram um aumento de 143% no valor destes contratos ilegais. Tinha já, entretanto, entrado em funcionamento o mecanismo de pareceres prévios da AMA. Ainda assim...

Em 2017, numa investigação do Público, chega-se à conclusão que, neste aspecto, nada mudou para melhor. Diz-se, então, que esta prática "deveria merecer uma acção da Comissão Europeia." Hoje fala-se de transição digital, mas sobre isto nada foi feito.

Hoje lembrei-me disto, porque alguém reclamava deste contrato, em que o SNS gasta perto de 300 mil euro em licenças de Office 365. Dir-me-ão que o SNS, agora, não tem alternativa noutro fornecedor. Já estava previsto no manifesto da ANSOL:

"provavelmente dirão que não têm conhecimento de alternativas ou que têm conhecimento mas não têm capacidade para as implementar e gerir. Ou pior, dirão que devido às decisões que eles mesmo tomaram no passado - que os deixaram enredados num esparguete de dependências"

Mas, convém sublinhar, também diz o manifesto das cebolas, "quem paga somos nós", e há alternativa.

Estes milhões são nossos. Até quando estaremos dispostos a esbanjá-los assim?

tags: pt, ANSOL, ESOP, SNS, Microsoft, Licenças, Office-365, Office, manifesto, contratos, públicos, ilegais, contratos-públicos, contratos-ilegais, transição, digital, transição-digital